28/10/2009

A banda larga e seus gargalos no Brasil

As conexões rápidas com a internet no país deixam muito a desejar. A defasagem em relação às nações desenvolvidas é de cinco anos

Carlos Rydlewski e Leo Branco

Desde 2005, a maior parte dos usuários de internet no Brasil já acessa a rede por meio da banda larga. A passagem das conexões discadas para as conexões rápidas representou um grande salto. Ficou para trás um mundo em que a simples mudança de página na web não era apenas um teste de paciência, mas uma aventura – não raro, as ligações caíam. Tornaram-se possíveis ações hoje corriqueiras, como assistir a vídeos ou trocar fotos por e-mail. A experiência cotidiana do brasileiro com a banda larga, no entanto, ainda pode ser frustrante. Um vídeo de três minutos do YouTube costuma levar duas ou três vezes esse tempo para ser visto. E usufruir recursos avançados da internet, como o download de filmes em alta resolução ou a participação em videoconferências, é praticamente impensável. "Na média, as conexões brasileiras com a web estão num patamar pré-YouTube. Têm cinco anos de defasagem em relação às dos países desenvolvidos", disse a VEJA o indiano Prashanth Angani, um dos responsáveis pela pesquisa.

Em todo o mundo, técnicos divergem sobre a definição de banda larga. No Brasil, encaixam-se nessa categoria as ligações com velocidade de transferência de dados a partir de 128 kilobits por segundo (Kbps). Na Europa, o mínimo exigido é 256 Kbps. Já a International Telecommunication Union (ITU), a agência das Nações Unidas para as telecomunicações e a radiodifusão, estipula taxas de pelo menos 2 Mbps. Por esse critério, nove em cada dez conexões brasileiras não podem ser consideradas como sendo de banda larga.

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O meio mais eficaz de transferência de dados pela internet – e aqui só se está falando da internet "com fio" – são as fibras ópticas. Esses dutos são formados por filamentos de vidro puro. Eles enviam sinais de luz a longa distância, sem perda significativa de intensidade. No Japão, o país mais bem colocado na pesquisa da Cisco, essa tecnologia espalha-se por 42% da rede. É a cobertura mais ampla em todo o planeta. As conexões japonesas são, desde já, consideradas adequadas para o uso da internet em 2012, quando serão comuns a realização de videoconferências com imagens em alta resolução, o manuseio de sistemas completos de automação em residências e redes sociais repletas de filmes e fotos. No Brasil, a fibra óptica não representa nem sequer 1% da rede. Aqui, quem carrega as informações da internet são ainda, em 70% dos casos, os fios de cobre dos sistemas de telefonia fixa. Essa tecnologia é conhecida pela sigla ADSL (linha de assinatura digital assimétrica). Os cabos coaxiais, usados pelas empresas de TV por assinatura, cobrem outros 26% da infraestrutura, e o restante é composto de satélites e rádios.

A eficiência da internet pelo sistema ADSL é condicionada, sobretudo, pela distância entre a casa do usuário e a central de transmissão de dados da operadora de banda larga. Se esse trajeto superar a marca de 5 quilômetros, a conexão com a rede dificilmente terá boa qualidade, independentemente da velocidade de banda contratada. Nesse sistema, a transferência de informações perde força ao longo do trajeto. Os entraves do sistema a cabo são diferentes. Nesse caso, o que pesa é o número de pessoas que compartilham da mesma "infovia". Quanto maior o total de usuários pendurados num cabo, pior será a experiência de cada um deles na internet. Além disso, os cabos coaxiais foram idealizados para conduzir as informações num único sentido. Por isso, são bons para baixar arquivos (download), mas nem tanto para carregá-los (upload). No entanto, a circulação de dados em mão dupla é cada vez mais usual – e necessária – na internet.

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Em todo o mundo, ampliar continuamente a infraestrutura de rede para acompanhar as mudanças no uso da web é um desafio da indústria das comunicações. Hoje, o que se vê é a circulação cada vez mais intensa de fotos e filmes com alta qualidade de imagem. Em 2006, os vídeos representavam 12% do total de tráfego na internet. Em 2012, atingirão 90%. Essa explosão de demanda contribuiu para sucessivas panes do Speedy, a banda larga oferecida pela empresa no Brasil. A companhia chegou a ser proibida pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) de comercializar o serviço entre junho e agosto deste ano. Para retomar a oferta, comprometeu-se a aprimorar seus equipamentos (como servidores, que traduzem os endereços dos sites em códigos da internet) e melhorar o atendimento aos clientes.

A importância de investir na infraestrutura da internet não pode ser subestimada. Crescentemente, a capacidade de oferecer ligações velozes com a rede se transforma num fator-chave para a produtividade de um país. Na economia de uma nação, esse item de infraestrutura tende a ganhar a mesma relevância dos portos e aeroportos. "Desenvolver a banda larga é o desafio do presente. É algo tão importante quanto foram a expansão da rede elétrica e a construção de estradas em épocas anteriores", disse Julius Genachowski, presidente da Comissão Federal de Comunicações (FCC, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, em um discurso no mês passado.

Um estudo do Banco Mundial divulgado em novembro de 2008 indica que, para cada 10 pontos porcentuais de aumento no uso de internet rápida, há um crescimento de 1,38% do produto interno bruto (PIB) per capita de um país. Ninguém ainda mediu o impacto da difusão da banda larga sobre o FIB de uma nação – a sigla significa felicidade interna bruta, conceito que às vezes é usado por psicólogos e economistas em discussões sobre o bem-estar de uma população. Mas deve ser considerável.