02/06/2010

Etanol de mandioca, em 90 dias

SÃO PAULO - A ONG Instituto Ecológica, de Tocantins, deve operar efetivamente com etanol de mandioca industrializada (mandioca brava, usada para ração) em até 90 dias - prazo em que a usina será finalizada. O álcool resultante do processo apresenta qualidade superior ao da cana-de-açúcar, além de ter diversas aplicações nas indústrias de cosméticos, química fina e bebidas.

Com uma qualidade melhor em relação à cana (maior pureza), o etanol da mandioca será também mais caro, quando comercializado no mercado. "Há poucas substâncias na mandioca, com uma alta concentração de amido, além do processo por fermentação apresentar poucos inibidores e contaminantes", afirmou o pesquisador Cláudio Cabello, do Centro de Raízes e Amidos Tropicais (Cerat), de Botucatu (SP), e também parceiro da ONG. De acordo com Cabello, o preço da mandioca industrial custa R$ 1,60, enquanto a cana-de-açúcar está em torno de R$ 0,80 e R$ 0,90.

Por enquanto, a unidade experimental de Tocantins está em fase de teste com equipamentos. As áreas envolvidas no projeto estão localizadas no Bioma Cerrado, em ambiente rural, situadas no município de Porto Nacional, a 60 km de Palmas - capital de Tocantins. Para Cabello, o Programa Bioálcool Tocantins poderá produzir cerca de 400 litros por hora, e o objetivo é comercializar, oferecer e abastecer o mercado.

"A usina tem capacidade de produzir até 10 mil litros dia", contou Leal. "Esta mandioca não é voltada para a alimentação e, sim, utilizada para a ração", explicou Eduardo Leal, coordenador executivo do programa. E completa: "O que temos de produção hoje, na região, é capaz de sustentar [os 400 litros dia], embora haja a necessidade de novos plantios e melhor manejo da produção".

O objetivo do programa, além de ter caráter comercial, é envolver pequenas comunidades rurais no estado do Tocantins. "A ideia é apresentar novas oportunidades para os pequenos produtores do norte do País", disse o executivo, que revelou ter contratos futuros em andamento.

A Eletronorte, uma das maiores consumidoras de diesel, juntamente com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), são os financiadores do projeto. Em caráter de pesquisa, o laboratório de Etanol do Cerat-Unesp também produz etanol, que pode processar mandioca, batata doce ou milho. "Lá, a gente vem produzindo entre 200 e 250 litros por hora [de mandioca]", disse o professor da Unesp.

Pesquisas e estudos

A pesquisadora da Embrapa Agroenergia, Silvia Belém, contou que, na década de 80, foi descoberta uma mandioca com mais açúcar que as demais.

"Não é uma fonte de matéria-prima que vai substituir a cana-de-açúcar na produção de etanol, mas pode se constituir uma opção para produtores de menor escala e nichos específicos", disse. No entanto, a pesquisadora atenta que "embora tecnicamente viável, a produção de etanol de mandioca depende do aumento de produtividade no campo para viabilizar economicamente a utilização dessa matéria-prima". Segundo ela, "há necessidade de mais estudos de sistemas de produção que considerem os consórcios com outras culturas alimentares, para que o preço da matéria-prima seja realmente competitivo".

Atualmente, o custo total para a produção de uma tonelada de mandioca é em média de R$ 140. No ano passado, o produto foi comercializado no valor máximo de R$ 200 a tonelada.

A Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical, em Cruz das Almas (BA), está também em fase de estudos para a produção de etanol de mandioca. "Estamos tentando desenvolver pesquisas há um ano", falou Álvaro Bueno, pesquisador do órgão.

Ainda segundo Bueno, uma das vantagens para se extrair etanol da mandioca é não ter que purificá-lo, já que o teor de álcool é mais elevado. "Por isso, deve-s fazer um levantamento sério para analisar os custos na produção, visto que o álcool de cana é mais barato e dá mais lucro quando comercializado", alertou.

Assim como o sorgo e caprinos - matérias já publicadas pelo DCI - , o desenvolvimento de etanol de mandioca se apresenta como outra alternativa ao etanol de cana-de-açúcar.

Fonte: DCI