27/01/2009

Vídeo sobre software da Microsoft é sucesso por ser muito ruim

Por Randall Stross (The New York Times) Aviso a todos os compositores iniciantes: a Microsoft lançou um software criado para vocês, e ele não requer qualquer treinamento musical. A pessoa canta a letra o melhor que puder e o software Songsmith gera um acompanhamento musical computadorizado. E até que ponto os resultados musicais satisfazem? A Microsoft permite que você descubra por sua conta em um vídeo intitulado "todo mundo traz uma canção no coração". O vídeo vem recebendo mais atenção do que o software, porque ele é involuntariamente horrível. Em Notes on 'Camp', um ensaio de 1964, a escritora Susan Sontag identificava uma categoria de arte que não é só "ruim a ponto de causar riso, mas ruim a ponto de gostarmos dela". E o vídeo do Songsmith certamente se enquadra a essa descrição. Quer o programa venda bem, quer não, os resultados do Songsmith não terão efeito material sobre a receita da Microsoft. Mas o marketing é interessante, porque sempre que a Microsoft encontra dificuldades para contar sua história, ela chama atenção para sua incapacidade de acompanhar a criatividade da Apple, sua rival menor e bem mais ágil. O Songsmith foi lançado em 8 de janeiro, mas centenas de espectadores já haviam assistido ao vídeo promocional no YouTube, alertados por blogs. "Nada será capaz de prepará-lo para o comercial do Microsoft Songsmith", alerta o blog Videogum. "Microsoft Songsmith é maravilhosamente ruim", segundo The Click Heard Round the World. "Pior vídeo promocional que a Microsoft já produziu" é uma das descrições oferecidas pelo TechCrunch. O vídeo consiste de um minimusical cuja trilha sonora parece ter sido gerada por um teclado eletrônico barato. A história começa com um pai que - cantando - diz que precisa criar uma campanha publicitária para toalhas que brilham no escuro. Depois, ele conversa com a filha que, cantando e digitando no laptop, conta sobre o Songsmith, "novidade que todo mundo vai querer". O pai então leva o laptop da menina e mostra o programa a um outro adulto, que pronuncia a inesquecível frase: "Microsoft, né? Então vai ser fácil de usar". A frase não é acompanhada por uma piscada irônica que deixe perceber que o nome da Microsoft dificilmente seria mencionado se o tema de uma conversa fosse facilidade de uso. O Songsmith só funciona com o sistema operacional Windows, mas o laptop em que ele é rodado no comercial é um MacBook Pro com adesivos que escondem o logotipo da Apple no centro da tampa. O ator é Sumit Basu, um pesquisador da Microsoft, e o papel do pai cabe a Dan Morris, outro pesquisador da empresa. Os dois, com Ian Simon, um estudante de pós-graduação na Universidade de Washington, desenvolveram o software, e também escreveram as letras do vídeo - o Songsmith forneceu o acompanhamento. Morris diz que a produtora do comercial forneceu o restante do diálogo. A dupla não tinha a intenção de satirizar. "Só queríamos fazer um vídeo divertido", diz Morris. Ele e Basu são cientistas da computação, e não atores ou roteiristas. Mas deixaram de lado o amadorismo quando decidiram divulgar o Songsmith por conta própria. Que o tenham feito é um passo muito incomum. Na Microsoft Research, tecnologias que apresentem aplicações comerciais em geral são transferidas a outras divisões da empresa, que podem convertê-las em produtos vendáveis, supervisionados por equipes de marketing profissionais. Perguntei a Morris se o software havia sido recusado pelas divisões de produtos da Microsoft e ele preferiu não responder, dizendo apenas que a tecnologia básica poderia ser usada em outros setores da empresa. Os pesquisadores decidiram ignorar os formatos de licenciamento de fonte aberta que pareciam bem adaptados a um projeto como esse e lançaram o software como pacote comercial, ao preço de US$ 29,95 nos Estados Unidos e de 29 euros na Europa. Morris diz que a receita ajudará a cobrir os custos de desenvolvimento. Se o programa tivesse continuado a ser o que era - um projeto de pesquisa chamado MySong, desenvolvido para fins acadêmicos -, não teria atraído tanta zombaria. Mas assim que foi colocado à venda na loja online da Microsoft, o mundo inteiro se sentiu autorizado a criticar. A forma mais devastadora de zombaria foi criada por meio do uso da produção musical do Songsmith mesmo. O YouTube está repleto de vídeos hilariantes nos quais letras de clássicos do rock foram cantadas no microfone do Songsmith e o horroroso acompanhamento gerado pelo computador foi gravado. Um exemplo foi descrito pelo blog Gizmodo: "David Lee Roth + Microsoft Songsmith = Puro Horror". Outros vídeos da Microsoft já haviam sido alvo de zombaria na Internet, entre os quais um clipe de treinamento de vendedores quando o Windows Vista foi lançado, mas eles não merecem o mesmo grau de crítica porque se dirigiam apenas ao público interno da empresa. Já o Songsmith não pode recorrer à mesma desculpa, ao transformar obras básicas do cânone do rock em baba sintética. O mais doloroso resultado que encontrei para a produção musical do Songsmith no YouTube foi produzido com as letras do álbum Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band,, dos Beatles. Ao ouvir o resultado, cheguei a considerar a possibilidade de que talvez o software fosse capaz de pensar como um ser humano e de fazer piadas à nossa custa. Vai ver que o Songsmith é que rirá por último. Tradução: Paulo Migliacci ME Assista o vídeo, abaixo:

Microsoft Songsmith Commercial