Cabo Verde e São Tomé e Príncipe prorrogaram por prazo indeterminado a adoção oficial das novas regras ortográficas; Moçambique e Angola não validaram o Acordo; Timor Leste e Guiné-Bissau nem tomaram conhecimento dessas novidades e Portugal, por não julgar prioridade, postergou para 2014 a adaptação às novas regras. Mas, o Brasil, precipitadamente, desde 1.o de janeiro de 2009, pôs em prática o "Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa". Esse pioneirismo tem causado mais confusão do que esclarecimentos e confirma o senso popular que a pressa é o avesso da perfeição.
É verdade que para a maioria dos cerca de 240 milhões de falantes do Português não importa saber se se deve escrever co-herdeiro ou coerdeiro; se é preferível empregar hífen em ab-rupto ou grafar abrupto. No entanto, para jornalistas, escritores, profissionais do mercado editorial, professores e todos que cotidianamente trabalham com o texto escrito, a confusão está armada. Também não adianta sair correndo em busca de informações seguras, pois até mesmo o Dicionário Escolar da Língua Portuguesa, elaborado pela Academia Brasileira de Letras, vacila. Após poucos meses de seu lançamento, os linguistas (sem trema) responsáveis pela primeira edição publicaram uma errata de dezenas de verbetes e admitiram terem interpretado equivocadamente a lei. Sim, são compreensíveis os erros, pois o texto oficial nem sempre é preciso, mas por isso mesmo não seria o caso de ao menos os acadêmicos preservarem o bom senso e discutirem com cuidado e profundidade as normas determinadas pelo Acordo e evitarem inclusive a discrepância entre os registros dos diferentes dicionários?
É, leitor, penso que, se você tem mais de 30 anos, deve ter saudade do tempo em que "Aurélio" era sinônimo de grafia correta. Hoje, desapareceram as garantias e o melhor é ser prudente, não aceitar de pronto o que os dicionários, antigamente consagrados, indicam, pois os ponteiros enlouqueceram e apontam para direções conflitantes. Aconselham os que têm juízo que se deve esperar o VOLP ("Vocabulário da Língua Portuguesa"), cuja função é estabelecer a grafia oficial de aproximadamente 450 mil palavras do Português. Tenham paciência, porque esse compêndio que deveria estar disponível em meados de fevereiro, conforme promessa da ABL, talvez só chegue ao mercado ao final de março. Enquanto isso, serão aceitáveis todos os equívocos!
Fonte: Blog Estadão