Extraídas do abismo da alma anoitecida,
Por muito tempo, em folhas maltratadas,
Guardei palavras, como as noites guardadas
No peito de Modigliani.
Penetro nas fendas do verbo,
Procuro as chaves do mistério,
O dicionário das ruas e seus lamaçais.
Quero decifrar a senha do fogo e a saliva da terra,
Escrever a vida e suas calçadas,
Como quem devora o verde assombroso
Dos olhos de Nahui Olin,
A Carmen Mondragón.
Carrego na língua
Rudimentos de vida e poesia,
E a ortografia de certas paixões.
Este é o ofício de guardar palavras:
Cultivar um sonho contra a morte cotidiana.
(Poema publicado no livro “Perto do Fogo – Trilogia do Amor, da Terra e da Esperança, p. 43 – Paulo Aires)
Reproduzido com autorização
Fonte: Blog de Paulo Aires